Circulam várias publicações nas redes sociais em que se defende que tomar um xarope caseiro de louro e limão tem benefícios específicos para a saúde pulmonar. 

“Xarope de louro e limão: uma solução natural para limpar os pulmões, combater a tosse e aumentar a imunidade”, lê-se num dos posts.

Noutra publicação alega-se que este xarope deve ser feito com dez folhas de louro, 15 colheres de sopa de açúcar, um limão e 200 ml de água quente, devendo ser ingerida “uma colher (sopa) antes das principais refeições – pela manhã em jejum, antes do almoço e antes do jantar” todos os dias.

Mas este xarope caseiro de louro e limão é, de facto, eficaz na limpeza dos pulmões, no combate à tosse e no aumento da imunidade? Existe evidência científica que o comprove?

É verdade que o xarope caseiro de louro e limão limpa os pulmões?

Em declarações ao Viral, o pneumologista Miguel Guimarães refere que, em primeiro lugar, “não há nenhuma forma de fazer uma limpeza pulmonar”. 

“O pulmão está preparado para fazer ele próprio a limpeza”, assegura o especialista. Agora, acrescenta, este órgão só consegue fazer essa “limpeza” se “não for agredido” e se “tivermos hábitos saudáveis”.

De facto, “há produtos mucolíticos que ajudam a dissolver a expectoração e a mandá-la para fora, mas não proporcionam propriamente uma limpeza pulmonar”. Estes fármacos “são apenas uma ajuda para expelir o trabalho de limpeza feito pelo pulmão”, esclarece o pneumologista.

Por outro lado, segundo o médico, não há evidência científica dos benefícios apontados nas publicações em relação a um xarope caseiro de louro e limão. 

“Para sabermos se a folha de louro ou o limão são eficazes para prevenir ou curar alguma condição era necessário fazer-se ensaios clínicos”, explica.

Neste caso, esses estudos não existem. Portanto, na visão de Miguel Guimarães, o que justifica, muitas vezes, estas recomendações partilhadas na internet são “perceções individuais ou pequenos relatos de situações em que se tenha sentido algum efeito que se atribui ao xarope (mas poderá nem ser essa a razão da melhoria)”.

O que se sabe sobre o limão? “O limão sempre foi usado muito como um desinfetante, precisamente por ser um ácido muito forte”. Logo, poucas bactérias conseguem resistir em contacto com esta fruta.

Em relação à influência do limão nas doenças respiratórias, o pneumologista explica que “o limão é muito rico em vitamina C – que é importante não só na prevenção, mas também no auxílio do combate às infeções respiratórias”.

No caso do louro, “fala-se de um possível efeito anti-inflamatório”, aponta. 

Ainda assim, não há nada que comprove que um xarope caseiro de louro e limão limpe os pulmões, combata a tosse ou aumente a imunidade.

Há perigos em tomar o xarope de louro e limão?

Os potenciais perigos associados à toma deste xarope caseiro podem estar relacionados com o consumo de limão em excesso. “Como o limão é um ácido, pode provocar algum tipo de dano, sobretudo no sistema digestivo, se a pessoa tiver algum problema”, frisa Miguel Guimarães.

Além disso, o limão também pode “agravar” o quadro clínico em pessoas com “alguns problemas renais”. Se for ingerido em excesso, “em determinadas situações, pode provocar corrosão dentária”. 

No entanto, sublinha Miguel Guimarães, “o uso esporádico e em baixas concentrações não provoca, à partida, grandes efeitos secundários” em pessoas sem fatores de risco.

Como manter os pulmões saudáveis?

Na visão do médico, “o principal agressor dos pulmões continua a ser o tabaco”, pelo que é muito importante não fumar. 

“Uma das coisas que o cigarro faz é anestesiar as nossas defesas contra as agressões, como o cigarro”, adianta. 

Por isso é que quando uma pessoa deixa de fumar “nota o excesso de produção de expetoração”, clarifica Miguel Guimarães. Essa é a forma dos pulmões fazerem “uma espécie de limpeza” que, até a pessoa deixar de fumar, era impossível de fazer.

Num vídeo informativo, publicado no Facebook do Sistema Nacional de Saúde (SNS), expõe-se alguns hábitos importantes para uma boa saúde pulmonar. São eles: “fazer exercício físico”, “evitar a exposição a poeiras e fumos” e “fazer rastreios com regularidade”.

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Este artigo foi desenvolvido no âmbito do European Media and Information Fund, uma iniciativa da Fundação Calouste Gulbenkian e do European University Institute.

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